quinta-feira, 29 de março de 2012

NEBLINA



Eu ando dormindo
Quando atravesso a rua
Nem vejo que o carro está vindo

Eu sonho acordado
E nem me lembro
O que foi ordenado

Eu durmo no tempo
Pra que minha criança
Não se perca no vento

À noite não durmo, tenho medo
Por não saber o que cada canto escuro
Guarda em segredo

terça-feira, 27 de março de 2012

O CORPO LIMITADO



Orgasmo não é
só sexo.
Para os menos evoluídos
só existe o orgasmo
da matéria.
Orgasmo é alma aflorada
em contato delicado com
o sentir.
O orgasmo sonoro,
entre tantos é o que mais
agrada-me. Deixando
os ouvidos em transe.
O orgasmo visual
dá-se com a capacidade
de saborear
um bom texto literário, uma
bela arte plástica,
sabendo esmiúça-la em seus detalhes.
Um bom filme, uma peça teatral...
Há também o orgasmo olfativo,
que reconhece que um bom perfume
também é uma arte, arte é também
quando a boca saliva ao sentir o cheiro
duma iguaria culinária de bom gosto. Nessa
há também a tesão do paladar,
que vai do prazer exótico ao rotineiro
arroz com feijão,
sem que nenhum desmereça o outro.
O corpo é de uma maneira ampla,
uma ferramenta de orgasmos inteligentes,
que poucos entendem como manusear.

domingo, 25 de março de 2012

FRAGMENTOS DE UM EU TODO RETORCIDO


Espalhafatoso
Escandaloso
Esquisito
Excêntrico
Débil
Gosto por barulho
Por barulho
Amor
Cor
Flor
Amarelo
Violeta
Um abraço para todos
Muitos beijos
Muito carinho
Simpatia
Ousadia
Insanidade
Um jeito meio sensível
Uma presença inconfundível
Um requebrado meio mais ou menos
Uma cabeça de explosão
De mil coisas
Viver a vida
Como se a vida toda
Fosse um minuto
A vida
Carência por atenção
Sonhos
Realizações
Sensações
Emoções
Verdade
Mentira
Nua e crua
Uma mulher nua
Um cara de gravata
Um livro bom
Um bom gosto
O teatro de Brecht
Senso crítico
Sensualismo
Ridicularismo
Escolher uma tribo
Escolher um estilo próprio
Se maquiar muito bem
Para uma boa
Apresentação
A idade que vai
O gosto pelo sem gosto
Frutas tropicais
Um país tropical
Muitas bananas
Mangas laranjas
Jaca caju limão
Uva abacate melão
Melancia jabuticaba
Jabuti já
Cravos da índia
Para mascar
Canela em pau
Em pó
Orégano
Muito orégano
O cheiro de um bom baião de dois
Muita festa
Música cantar
Viva o conforto
O contato humano
Orgasmo sem transa
De dia de noite
A cama
A grana
Muitos canalhas
Muitos amigos
Uma vaga no estacionamento
Lamento
Perda de memória
Perda de dinheiro
Muito talento
Pouco talento
Ta lento
Perda de... de...
Ah!

terça-feira, 20 de março de 2012

ODE GALINÁCEA


A galinha é o principal bem
para a nação.
Com sua crista
e penas brilhantes
cacareja para a lua
em cima do esterco,
sem esperar pela morte.
É animal bem vistoso,
cavoucando o solo
em busca de comida.
No quintal nos defende
dos insetos, catando-os para si,
faz barulho se chega gatuno,
nos acorda na matina com seu cacarejar,
nos dão seus ovos de infinitas utilidades,
capina com seu bico o mato que cresce.
Na hora da morte a vida teima em não sair,
aumentando sua agonia.
O seu sangue que escorre na tigela,
mais tarde servirá para engrossar o caldo
em que sua própria carne será cozinhada.
Como é desejado seu cadáver!
Felizes lhe devoram a carne e roem
seus ossos.
Galinha, ave benéfica, com sua carne
mantém vivos os que lhe furtam o prazer
de existir.

sexta-feira, 16 de março de 2012

DIRETOR DE TEATRO



Olha a dicção
Olha a dicção, hein!
Gesticula
Gesticula
Cuidado com o estereótipo
Cuidado com o estereótipo
Aumenta a voz
Aumenta a voz, porra!
Não perca a marcação
Entrou na hora errada
Escuta, presta atenção, seu veado
Para de exagero, caramba!
Roube a cena, meu rapaz
Roube a cena
Não deixe a peteca cair
Eu já me cansei!
Cansei!
Quantas vezes vou ter que repetir?
Cadê a emoção?
Merda! Cadê a emoção?
Me convença
Vamos, me comova
Expressão corporal
Expressão corporal
Não basta memorizar o texto
É preciso interpretação
Me faça acreditar
Me mostre mais realidade
Seu personagem ta muito fraco
Tem que pesquisar mais
Se vira
Corra atrás do prejuízo
Ta muito sem emoção
Muito sem emoção
Fique atento na intenção do personagem
Como o personagem pensa?
Não, não, não
Eu quero ver o personagem em cena, não você
Não é o bastante
Sei que você está dando seu melhor
Mas não é o suficiente
O melhor não é o suficiente
Nunca é o suficiente
Valeu, pessoal, por hoje chega
Vocês estavam ótimos
No próximo ensaio a gente continua

segunda-feira, 12 de março de 2012

POEMA PARA VEGETARIANO LER



Não comerei da tua carne,
Oh insegura vaquinha!
Apenas me ceda seu leite
Que eu mesmo colherei
Da vaca que eu mesmo terei,
Para assegurar que não beberei leite criminoso,
Contribuindo para que bezerrinhos indefesos padeçam de fome
Para saciar minha sede.
Bezerros que logo se desenvolverão anabolizados,
Para cumprir seu papel em sua curta existência, nas mesas
Das famílias que acolhem sorridentes sua carcaça morta.

Não comerei da tua carne,
Oh insegura vaquinha,
Que vive no breu da tormenta.
Seus filhos aguardam numa espera de angústia
Que o aço frio lhe rasgue a nuca,
Para encherem barrigas de pessoas famintas,
Mas, entretanto com uma face serena e pacífica,
Perdoando ao carrasco que lhe furta a vida.

Não serei o canibal de tua carne.
O canibalismo está em todas as carnes
Que são ingeridas,
Somos feitos todos da mesma matéria temporária
Que é a carne,
Quem as devora, devora a si.

sábado, 10 de março de 2012

CABEÇAS E BANDEJAS



Sirvam-me
cabeças de frango
em bandeja de prata.

Cabeças de homens
em bandeja de ouro.

As bandejas calam,
as cabeças falam.

Mais vale uma cabeça
fora do pescoço
do que difamando o corpo.

Mais vale uma cabeça
fora do pescoço,
que os frangos que servem pra matar a fome.

O ouro é caro,
temos bandejas
de prata,
bandejas de bronze,
de lata.

Nem toda desordem é
dadá,
existem também as
surrealistas,
as
futuristas,
as
modernistas,
as
inclassificáveis
a que chamamos simplesmente de
desordem.

quarta-feira, 7 de março de 2012

REIVENTOU O ROCK



Caetano fêmea
Caetano macho
Caetano nacional
Caetano internacional
Caetano da viola
Caetano pensador

Brega Caetano
Bossa Caetano
Caetano revolucionário
Caetano engoliu mais um otário

Caetano arte
Caetano música
Caetano palavra na palavra
Caetano política
Seu nome é arte

Caetano agora é Rock
Gritam que não
Caetano reinventou o Rock
O monstro artista Caetano

segunda-feira, 5 de março de 2012

O MISTÉRIO DA QUINTA ESFERA, DEPOIS DA QUARTA, ANTES DEPOIS DA SEXTA QUE NÃO EXISTE EM JÚPITER

Criação minha e da minha amiga Camila Loricchio Veiga, criadora dos blogs http://aetriasdiary.blogspot.com/ e http://castelodecartas.com.br/

PS: Quem quiser ver a versão deste poema em forma de texto, é só acessar http://www.castelodecartas.com.br/?p=500

Um embasamento teórico sobre a teoria da evolução


Só depois de atravessar a quinta esfera, do oitavo giro de Júpiter

Foi que pôde compreender

As respostas existiam somente na quarta esfera
Mas a quinta pareceu mudar tudo.
Alienígenas, numa busca insana por coisa nenhuma
Adaptaram-se à nova biosfera, hoje os nomenclaturamos de ostras
Roubamos suas pérolas
Elas acham extremamente estranho que os humanos usem cânceres no pescoço
Ouvidos
Dedos


Será preciso explanar sobre o que há na quinta esfera, ou quarta?
As esferas, teoricamente provadas no empirismo científico
Haviam deixado há tempos de ser reflexivas
Inegável sua influência na existência plena do vácuo
Da expansão do universo ilimitado
A última ficava perto de um restaurante
O que fez muitos duvidarem da existência divina
Manter a Vida Celestial estava cara de mais
Por isso era preciso faturar alguns dobrados
Em redes de Fast-food
O chefe deixou uma frase em fogo, desculpando-se pela ausência 
Havia tirado umas férias nas Bahamas da dimensão vizinha
O mensageiro, para entregar o comunicado, Moisés
Por serem mensagens em fogo, teve de usar luvas de couro de dragão
Embora houvesse reclamado um pouco no começo, por preferir as tábuas
Nada poderia fugir do tempo previsto, as luvas eram emprestadas
Seu dono era Conan o Bárbaro, inimigo de Barbies e pôneis
O mais leal confidente do Mestre dos Magos
Não há nada melhor para esmagar seus inimigos do que essas luvas
Mas também devem servir para levar a mensagem em fogo
Na correria, na corrida incessante contra o tempo
Uma fagulha de fogo voou para longe das chamas
O calor estrambólico
A fagulha pairou acesa aqui em nosso planeta
Gerando a primeira queimada florestal
O caro leitor me diria: ué, mas como que a fagulha
Conseguiu atravessar o vácuo? 
E daí eu responderia, simples, caro Watson!
Ela não consumia oxigênio
Ela consumia a total ausência
Ou o vácuo se prefere


O fim de todos será o confinamento na quinta esfera
Mergulhados em seus medos, langor e ódio
Fervendo no molho da podridão do preconceito!
Você é o ingrediente indispensável desta receita do mal!
Você é a grande pitada maldita para tudo explodir!
Justamente por serem seres consumidores de oxigênio
O oposto da famigerada fagulha
É justamente a solução, ao mudar para outra dimensão
Onde se tornarão seres da sexta esfera
Descoberta e não descoberta há pouco
A latente real não existente sexta esfera
Jamais explorada e esmiuçada a fundo
É algo a não decifrar já decifrado
Que jamais poderá ter acesso ao seu conhecimento limitado
Que é tudo que você, todos sabem, ignoram
Que poderíamos dissertar sem realmente falar alguma coisa,
O que não seria exatamente possível por estar na quinta esfera
Afinal, que grandes mudanças provocou a quinta esfera?
Perguntar é pecado!


É claro que as ostras nos responderiam, caso infringíssemos essa questão
Muitos só se interessam pelo objeto dito raro e caro
Permanece um mistério. Curioso. Muito curioso
Malditos pecadores, profanadores de ostras!
O que estávamos falando da quinta esfera novamente?
Melhor dar um fim, acabar com tudo isso
Destruir as evidências e matar as testemunhas
Sim. E deixar as ostras por lá
Elas não parecem saber de muita coisa mesmo
Não que alguém vá perguntar, mas nunca se sabe

sexta-feira, 2 de março de 2012

O POMAR CHAMADO MUNDO


Quero dessa fruta,
o gomo, o caldo, o sumo, o suco.
Quero dessa fruta
suave ou áspera, doce ou azeda.

Quero chupar todas as frutas,
quero todos os frutos
que a vida me apresentar
e me oferecer caridosamente.

Eu quero colher os frutos
desse pomar chamado mundo
e cuspir o fruto ruim
e colher mais frutos bons
e criar meu próprio fruto.

quinta-feira, 1 de março de 2012

A VITÓRIA DO VENCIDO



Após o golpe de morte,
os golpes despejados sobre mim
com objetos e armas já não
me doíam,
aquele corpo estraçalhado
já não era mais eu.

Encontrava-me livre de dor,
liberto das limitações do corpo humano.
Percebi-me rindo pelo espetáculo
esdrúxulo e grotesco que assistia.

Vi pessoas despejando sua raiva e intolerância
num objeto agora inanimado,
maltratando a consciência e acrescentando graus de culpa
para si próprias.
Se sujando com o que antes
era a minha carne
e agora é nada.

Eu finalmente
estou liberto, em paz,
livre do peso da carcaça
imunda.
Quem venceu?