quarta-feira, 28 de setembro de 2011

QUEDÊ MINHAS TETAS CHEIAS DE LEITE


Queria dar
muito mais de meu leite
para vocês,
mas não posso.

Leite é matéria branca,
bebida carinhosa e honesta,
perfeita e limpa, simples,
símbolo maior da maternidade.
O leite é bom, porém, não é constante,
por isso seca.

Espremo minhas tetas,
agora estou espremendo minhas tetas
e oferecendo a vocês
essas últimas gotas.

Agora a mim e a vocês que me lêem
só nos resta esperar.
Esperar...
esperar até que uma nova inspiração
me fecunde novamente.
Não que me fecunde apenas o ventre,
terei o corpo por inteiro fecundado
como se eu fosse apenas útero, e
nesse útero hão de caber todas as minhas crias.

Assim mais uma vez, me brotará o leite,
com as tetas cheias e transbordantes
de leite novo, limpo e bom
eu poderei alimentá-los outra vez.
Cuidarei para que pessoas más
não venham sugar de meu leite
sem digeri-lo corretamente, fazendo dele leite ruim.

Esse leite que é a poesia.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

GRITO DA NOITE



Grito da meia-noite,
Assobio no mato.
Um assobio contínuo no ar,
Uma risada maléfica vinda do nada,
Um vulto negro no negro da noite.
Um grito que apavora,
O grito do caipora.
Macumba lerê,
Encruzilhada de esquina,
Mandinga de floresta,
De mata fechada.
Despacho, vela acesa.
Água do mar, sal grosso, areia branca,
Charuto, pólvora, um gole pro santo.
Fumaça que sobe,
Um cheiro de enxofre,
O tinhoso a espreitar
Com olhos de fogo,
Com chifres de touro,
Com patas de bode,
Com língua de serpente,
Catinga e bafejada que só dele é.
Mistérios entre céu e inferno
Esbarram na Terra.
Suspiro da meia noite,
Maldição trazida pela noite,
Faísca no mato.
Valha-me pai!
Credo e cruz!
Livrai-nos desse mau agouro
Que o Demo não pode pegar!
Banho de arruda,
Gole de água benta,
Ritual de descarrego.
O filho bastardo que fique da minha porta pra fora.
São duas da madrugada,
Rezo pro divino
Reza brava,
Chega a esperança
Em forma de
Anjo luzindo.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

SIMPLICIDADE



Queria não me preocupar tanto
E definir a maioria dos males
Com a simplicidade de meu bisavô
Dizendo:

Isso é moléstia ruim!

domingo, 18 de setembro de 2011

A ARTE NUA



O teatro e o cinema nacional dos idos anos 70 e 80 é que tinham razão. Os atores, na maioria das cenas, apresentavam-se nus, pregando uma forma natural de vida. Era a maneira mais sóbria, sábia e bela de pregar a libertação da forma, a mais bela forma de manifestação artística numa época de burra repressão.
Glória aos cabides abarrotados de roupas e outros tantos acessórios, glória às luvas fora das mãos, as meias fora dos pés, aos sapatos na sapateira, glória às roupas íntimas queimando na fogueira! Chega da formalidade das gravatas! Lugar de roupa é no armário, nos guarda-roupas, nas araras das coxias dos palcos. O corpo clama por sua libertação, o corpo por ele só, ao se ver livre e expressivo gritaria: vitória, é a vitória!
As cenas de nudez não deveriam ser censuradas; censurá-las não faz sentido, o que deveríamos censurar são as cenas em que os atores aparecem vestidos.
A luz do palco resolve tudo. Não existe um corpo nu que não fique sensual e provocante embaixo de uma meia luz. A meia luz corrige as formas, valoriza, modela.
Se querem mesmo proibir o corpo, que proíbam também as descomunais estátuas gregas que revelam tudo e não chocam a ninguém e não são censuradas para menores ou adultos (apenas os formidáveis estatuários gregos que alcançaram a façanha de expor o nu de forma pura e ingênua).
Os gregos medievais... Ah, os gregos medievais é que sabiam viver livres de roupas! Os gregos medievais... A Grécia era só beleza. Até mesmo suas guerras eram um espetáculo digno de público, digno do mais refinado público com seus guerreiros em suas armaduras que não escondiam os principais documentos da anatomia, deixando à mostra as partes que nos dão identidade.

sábado, 17 de setembro de 2011

QUERO DESCOBRIR A BELEZA OCULTA



Quero antes as feias.
As feias sim que carregam
a verdadeira beleza.
As belas pensam que são,
(mas não são)
são de todo dissimuladas
e se sentem acima
e se sentem mais.
Além de tudo é difícil de segurar,
pois lhe seguem mil homens
com as mais variadas juras e promessas.
Mal sabem que a idade
levará o que tem de belo.

Quero uma feia, para a cada dia
descobrir sua beleza oculta.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011



VÍ SEU NOME NUM LETREIRO DE NEON

A Cacilda Becker & Bibi Ferreira


Uma mulher
mil em uma,
uma mulher em plural.
Rainha do drama,
dos palcos,
das casas noturnas,
dos palhaços solitários.
Alegre ou triste,
grande ou pequena.
É grande sim, imensamente grande.
É o espetáculo da noite,
ou das manhãs,
ou tardes.
Um plural. Sim!
Um plural de figuras,
de personagens.
A cultura nacional,
a que prende a atenção da gente
e nos emociona
ou nos faz rir,
chorar, ter medo, ódio,
nos excita com sensualidade.
O mito dançante
talvez em repouso em cima do palco.
Ela e o palco... um só.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

ÚTERO DE PANO


Elas, bonecas de luxo,
vivendo no lixo.
Elas, sem qualquer futuro,
para elas tudo é tão sofrido e obscuro.

Feias, lindas donzelas,
frágeis, de vidro, são belas.
De porcelana, com recheio fino
ou estopa. A se desenvolverem como um girino.

São bonecas de pano.
Será que me engano?
Ainda não tem idade de gente.
Delicadas, como penduricalho de fino pingente.

São bonecas para olhar,
não para tocar,
não para desejar,
quanto menos para se comprar.

Menina boneca, desfaz o encanto,
descarta a beleza de ser o que é. Disfarça o pranto.
Agride sua forma. Forma que se vai.
Deixam de ser bonecas para serem fantoches! Em nome delas falai.

Dolorosamente se rebaixam
a bonecas de vitrine.
Adultos as alugam para brincarem o quanto podem. As esculacham.
Cuidado! A boneca vai se quebrar!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011



NONSENSE RIDÍCULO


Não quero baratas em meu jardim
Não quero baratas em meu jardim
A senhora não se faz compreensiva
Recolham-nas, recolham-nas todas
Era a vez de eu reagir
Vou teimar e entender
Aqui estão as baratas
Ótimo! Espalhem-nas em meu jardim
Mas senhora...
Já disse. Quero-as perto das roseiras
Mas que linda mesa posta para o jantar
Vamos cear? Não? É preciso esperar a meia noite?
Ótimo, só mais uma taça de conhaque de alcatrão
Desculpe-me, mas vou recusar, não quero a sobremesa
Há um sapo em meu quarto
Acredite, não adiantou, já está todo cheio de baba e continua sapo
Havia uma escada ali que não dizia pra onde ia
Então eu desci, confesso que isso é novo
Quando sair do banheiro será tarde
E isso era mesmo uma coisa digerível
Senhora peço que compreenda, o café está posto e já esfria
Da manhã. Café da manhã? Não, tarde
Cinco da matina
A madrugada tem gosto diferente do resto do dia
Acordada de madrugada as pupilas crescem
E acordei com uma pele linda depois de ter dormido a noite toda
Por enquanto vou tentar me acordar
Por favor, vista-se senhora, que agora é a vez do real
Ele não veio?
Vou tomar o café

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

MULHERES



O tempo que castiga a beleza
em forma de mulher,
é o mesmo que da árvore
encerra o verde e traz
a cor do luto encerrando
sua agradável utilidade e presença.
O tempo que não perdoa
a face rósea e lisa de dourada penugem
só não lhe tira seu poder
de domínio e controle fatal
sobre os homens frágeis e
despreparados para viverem sem elas.
Elas que se rasgam na dor do parto,
com os seios nos alimentam
cuidando e protegendo.
Elas que na adolescência nos
ensinam o coito,
ensaio para uma provável
vida matrimonial.
Não sabemos conquista-las,
muito menos amá-las.
Mesmo assim se fingem
de satisfeitas e fingimos
que os dominantes somos nós.
O espinho já nasce pontiagudo,
o espinho de pequeno já sabe espetar.
A mulher de menina
já sabe mandar.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

RECOLHO MEUS PEDAÇOS NO CHÃO


  
Vejo-me fragmentado no chão,
recolho os meus pedaços,
colo os cacos e, lentamente,
os reúno e os converto em palavras
que hora te deixo entender,
horas as faço só minhas.
Junto o que posso do que sobrou
de mim, aos poucos faço torna-los
um novamente. Mesmo que quando me olhe
não veja a figura costumeira
de todos os dias, mas sim
um eu todo retorcido.
Sempre sobrará um naco perdido no ar,
uma lasca, uma parte insignificante
que me torna incompleto.
E assim vou
esperando, esperando,
procurando, procurando,
entrando em lugares,
vendo, fazendo coisas,
correndo, olhando, chamando,
procurando insistente,
em busca do que faltou de mim.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

LEITE QUENTE





Alguns minutos preciosos
Finalmente só em casa

Cadê o filme pornô?
Corpo trêmulo
Bota o filme pornô
Pênis pêndulo

Não pensa em nada
Tem pouco tempo
A mão embalada

Depois de três minutos
A porra jorra
E limpa a mão no sofá da avó

domingo, 4 de setembro de 2011

SÓ UM





Você foi embora,
Teu amor não durou
Mais que um dia.
Me iludiu,
Da minha cegueira
Você riu.
Caí em teu canto
De sereia maldita.
Bebi do teu veneno
De cobra criada,
Mulher gelada.
Foi um,
Só um dia.
E ainda guardo
O afago,
O braço,
O abraço,
O fracasso
Desse amor,
Falsa alegria.
Foi tudo
Tão denso,
Tão intenso,
Tão imenso.
Eu lhe arrastava
Flor, por teus cabelos
E me cravavas as unhas
Em minhas costas largas
Até sangrar
E lambia
A ferida.
Foi um,
Só um dia.
Ainda me machuca
Quando penso em
Tua nuca,
Teus olhos,
Boca, saliva escorrendo,
Tuas ventas abertas,
Tua língua áspera,
Tuas pernas mal raspadas,
Teu buço,
Teu impulso
De vadia
E vai o dia.
E já nem lembro
Do seu rosto,
Sua maquiagem
De mal gosto,
De rua.
Seu jeito de dizer
Crua e nua a verdade
E as mentiras que dizia
Para que me sentisse desejado.
Você foi embora,
Levou meu dinheiro,
Meu apego,
Meu sossego,
Meu emprego,
Os meus dias.
Foi um,
Só um dia.
Nada mais,
Só um dia
Na noite fria.
Eu otário solitário
Caí em tua teia
De viúva negra.
Se vestiu de santa,
Se mostrava toda
E depois de novo
Se recolhia
E se fechava,
Me provocava,
Me acendia,
Me enfeitiçava
E me domava
No teu corpo
Suado e quente.
Foi um,
Só um dia.
Você, murcha flor
Que se despetalou
E se foi no vento
E deixou seu cheiro,
Lembrança daquele dia.

sábado, 3 de setembro de 2011





TEATRO DO ABSURDO 



PERSONAGENS

Marido
Esposa
Voz em off



CENÁRIO:
Uma poltrona velha e uma porta de madeira.



ATO (ABSURDAMENTE) ÚNICO


(Ao subir o pano, inicia-se uma discussão demorada e sem razão relevante, a Esposa dá alguns tapas e safanões no Marido. Ouve-se bater de portas e bater de pés contra o chão. Silêncio absoluto por dois minutos. O Marido está sentado na poltrona com ar misterioso como quem está tramando qualquer coisa, a Esposa está em pé, chorando na outra ponta da sala.)
PS: é recomendável que os atores estejam completamente nus.

MARIDO - (solta um grunhido lá do fundo da garganta, abre a porta com fúria, atravessa a porta em passos atrapalhados e a deixa aberta).

ESPOSA - (correndo até a porta.) Volte homem! A noite não tem Lua e já é noite alta!

MARIDO - (dirigindo-se a esposa.) Se eu me perder deixe que eu me encontre.

VOZ EM OFF - Ele não se encontrou, Deus não o encontrou, o diabo também não o encontrou, ninguém o encontrou.





PANO

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

VIVA ÀS PROSTITUTAS








Salve as prostitutas
provedoras do gozo!
Alívio para os culhões.

Salve as prostitutas
que nos agasalham,
que amam sem compromisso.

Salve as prostitutas
iniciantes, com as partes apertadas,
salve também as experientes
já alaceadas.

Salve as prostitutas
que não prometem vender amor,
e sim prazer carnal e momentâneo.
Quem precisa do amor, exceto os fracos,
como eu?

Salve as prostitutas
que não nos deixam
sentir culpa,
pois transam sem amar, ou melhor,
nos dão sem termos que amá-las.

Salve as prostitutas
que fingem o orgasmo,
que dizem sermos o maior
quando temos o pau pequeno.

Salve as prostitutas
que não reclamam,
que topam de tudo,
que oferecem bem abertos
todos os orifícios.

Salve as prostitutas,
das mais durinhas
até as mais flácidas,
salve as vovózonas do sexo
e as ninfetinhas para a alegria dos turistas.

Salve as prostitutas
que todos desejam comer,
salve também aquelas
que só solicitamos quando não há
mais pra onde recorrer.

Salve as prostitutas
que transformam os mais inexperientes
em homens,
que satisfazem os
com muita experiência.

Salve as prostitutas
de todas as categorias,
de todos os preços,
sobretudo as mais baratas.